"Quando a primeira gota caiu, foi como um primeiro beijo em minha face. Aquela cor vermelha, viva e viscosa, se esparramando no chão me deixou exausto de tanto imaginar. Mas antes da gota primogênita, veio a navalha amolada entrando na carne, como um arquiteto em uma de suas obras noturnas de inspiração. A jovem de cabelos loiros estava naquele momento me amando de um jeito diferente, estava sangrando sentimentos para que eu me revivesse. Infelizmente ela não compreendia o quanto aquilo não tinha absolutamente nada a ver com maldade, nem com vingança, era apenas um corte delicado de amor em seu frágil corpo. Amanda era uma das minhas vítimas mais sensíveis ao corte macio da navalha, pois seu sangue brotava como a um rio a deslizar, com águas negras e um desejo puro. Pois é, o meu desejo é puríssimo, involto pela nobreza de amar. Apenas difere na forma: Só consigo absorver emocionalmente o outro quando o elevo ao estado de hibernação perpétua".
Fernando Vitório
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