Dispenso definições. Escolho pela metamorfose de escrever livre, longe de qualquer vulto de encaixe. Se me perguntarem sobre o que é isso, hesito em responder. Apenas sinto...

terça-feira

Amanda e a navalha macia (Fragmentos do personagem Fernando Vitório)

"Quando a primeira gota caiu, foi como um primeiro beijo em minha face. Aquela cor vermelha, viva e viscosa, se esparramando no chão me deixou exausto de tanto imaginar. Mas antes da gota primogênita, veio a navalha amolada entrando na carne, como um arquiteto em uma de suas obras noturnas de inspiração. A jovem de cabelos loiros estava naquele momento me amando de um jeito diferente, estava sangrando sentimentos para que eu me revivesse. Infelizmente ela não compreendia o quanto aquilo não tinha absolutamente nada a ver com maldade, nem com vingança, era apenas um corte delicado de amor em seu frágil corpo. Amanda era uma das minhas vítimas mais sensíveis ao corte macio da navalha, pois seu sangue brotava como a um rio a deslizar, com águas negras e um desejo puro. Pois é, o meu desejo é puríssimo, involto pela nobreza de amar. Apenas difere na forma: Só consigo absorver emocionalmente o outro quando o elevo ao estado de hibernação perpétua". 

domingo

Boa Viagem, Andarilho!

Resisti enquanto pude escrever sobre ele. Nenhum motivo especial me impedia, apenas e cruelmente a preguiça. Isso é o mínimo que ele merecia de mim, acho que por ser covarde só lhe posso dar palavras. Com certeza ele quer mais do “isso”: um bom prato de comida, um banho revigorante, um emprego simples e uma casa para morar. Principalmente, uma casa. Pois bem, amigos, ele não tem lar. Como não sei o seu nome e muito menos quem ele de fato, o chamo, de O Andarilho de Boa Viagem

Explico-vos: Todas as manhãs, quando passo de ônibus pela Avenida Conselheiro Aguiar, o vejo da janela: vestido com uma bermuda rasgada, sujo, barba crescida e tristemente magro, passeando pela calçada como se buscasse o que o mundo lhe privou. Da minha janela, na posição confortável de inutilidade e covardia, o observo, na sua posição miserável de esperança. Primeiramente, sinto por ele um dos mais indignos sentimentos: pena. Depois, ódio. Ódio por ele ainda querer sobreviver com tamanha falta de vida ao seu redor. Ainda bem que esse ódio passa rápido, graças ao meu estoque inviolável de bom senso. Depois, divago o porque de sua situação, tentando entender como ele atingiu o ponto de abismo. 

E nesse breve mergulho matinal nas entranhas famintas do Andarilho, eu percebo, com medo, que nós dois guardamos distâncias que nos matam a cada dia: ele é distante do mínimo de humanidade para sobreviver a extinção alimentar; eu, distante do máximo de ineficiência para viver entre os solidários. A começar por isso que faço aqui: escrever um punhado de especulações pseudo-literárias a quem agora se embrulha de fome e frio! E de alguma forma, mesmo que ridícula, desenvolvi uma necessidade com ele, uma dependência visual de encontrá-lo todos os dias. Necessidade quase sempre correspondida, pois pouquíssimas vezes ele falhou comigo na presença diária. E quando some o procuro na próxima esquina, com os olhos cínicos de quem precisa a confirmação de sua permanência por ali. Uma espécie de distração filosófica para a monotonia de uma avenida de prédios, cachorros bem tratados e paradoxos urbanos. 

De onde ele veio? Tem família? Como ele se alimenta? Ele ainda guarda esperanças? Viverá até a sua próxima exibição para a minha janela egoísta? Questiono calado no meu banco de passageiro. E sigo parado na minha agenda de atitudes louváveis. E o Andarilho caminha, indo e vindo, não importa a ordem, o essencial é o deslocamento. Para ele, o temor de amanhã não existe, pois o seu hoje é sempre o último. 

sábado

Delírios Líricos de Saudade Bate-bate ou Texto Desesperado da Espera Incessante



Saudade apertando aqui feito doença cardíaca, feito vício de cafeína e pimenta. Tento olhar as coisas que te lembram, talvez me confortem num instante de loucura, ou talvez me tragam mais teu vivo. Mais é uma saudade boa, não de despedida, mas de espera ansiosa, de abraço duradouro e de sinceridade. Enquanto isso, vou fazendo os elementares por aqui, enquanto não me acompanha. Preciso confessar: hoje a saudade doeu um pouco, um pouco mais do que queria que saísse. E saiu junto com uma lágrima de lembrança. Uma sensação estranha de estar perdido me tomou num segundo, mas de imediato me veio teu pensamento que me tirou desse buraco terrível de estar só. A graça de alguns detalhes simplesmente se ofusca nos dias sem ti, na verdade até parece clichê dizer assim, mas é uma eternidade mesmo te esperar. Tente ser rápido por aí, que eu vou tentar ser devagar por aqui. Mais uma vez, saudades explodem, cortam e me balançam de um lado para outro. Te amo abertamente, sem vidros nem chaves, com o peito aberto para tua verdade. Beijos com asas!

quinta-feira

Café da Manhã em Plutão (2005)


Ambientado nos anos 70, na explosão dos conflitos entre irlandeses e ingleses, Café da Manhã em Plutão retrata, desde criança, as desventuras e artimanhas de um travesti na procura pela sua mãe. O que poderia ser um enredo digno de uma tragédia açucarada se transforma em um delicioso drama pontilhado com humor e irreverência, num equilíbrio sensato entre choros e risos. Com direção de Neil Jordan, aclamado pelos filmes Entrevista Com o Vampiro (1994) e Traídos pelo Desejo (1992), o filme explora a homossexualidade na figura de Patricia (ou Patrick) Kitten Braden, trazendo a figura clichê do travesti alegre e desbocado, mas sem cair no piegas do dramalhão esteotipado. Pois, apesar do personagem caricato, a trama cai numa harmonia espontânea e divertidíssima de se construir uma densa historia de vida com senso de humor. Palmas magistrais para ator Cillian Murphy, que dá corpo e alma a Patricia. Para aqueles que viram Cillian em Batman Begins (2005) e Vôo Noturno (2005), aqui ele se metamorfoseia de uma maneira digna de respeito, e muitas vezes se tornando irreconhecível sua associação com personagens psicopatas, tamanha é sua capacidade de se totalizar com o universo gay. Fugindo das crises existenciais, Patricia não é o cara que se olha no espelho e se vê perdido diante da situação de ser o que é. Ele, ao contrario, se aceita perfeitamente e age de acordo com seus instintos. Apesar da delicadeza e feminilidade que Cillian Murphy traz ao personagem, não vemos em Patricia uma fragilidade inibida, mas sim uma instrução de que a aceitação começa por dentro. A criança adotada, mesmo no ambiente familiar hostil, se expressa sem receio suas preferências, e quando adulto sai de casa, na Irlanda, a procura da mãe, na Inglaterra, e mesmo com os desvios no seu caminho, Patrick nunca deixa Patricia sucumbir, e fica firme de salto alto e peito aberto a qualquer provocação. Café da Manhã em Plutão poderia ser um simples filme sobre um travesti qualquer com objetivo piegas de reencontrar a mãe que o abandonou na porta de um padre de coração bom. Mas não. É divertido e profundo na medida certa, remexe no ponto ácido da rejeição da sociedade pelo diferente, sem esquecer de que o mundo das Patricias é uma comédia feita de coragem e determinação.  



A METOMORFOSE DE CILLIAN MURPHY

terça-feira

Não. Sei que...(A Falta)


Me perguntaram um dia se eu era feliz. Respondi: "Não sei". Me perguntaram outro dia se eu sabia o que era ser feliz, eu respondi: "Não sei". Mais outro dia, depois desses dois, me perguntaram se eu já fui feliz, respondi: "Não sei". Seguiu-se mais um dia, e me perguntaram, delicadamente, se eu pensava em ser feliz, respondi: "Não sei". Quando eu achava que já estava livre de tantas indagações (in)felizes surge outro dia, outra pergunta, outra repetição de palavras nesse texto. Então, finalmente me perguntaram se eu tentava ser feliz. Essa eu fiz questão de ficar calado.


domingo

- Papai, pra que serve o Natal?


O Natal está chegando! Oba! Tempo de confraternizar, de rever os amigos, de se deliciar com as maravilhosas receitas, de comer peru e panetonne! Tempo de dar presentes e receber também! Tempo de ser feliz! – FELIZ ??? HUM...ACHO QUE NÃO...APAGA TUDO ISSO!!! ESQUECE O QUE EU FALEI! - Pensando bem, Natal é tempo de ajudar os mais necessitados, de ser solidário com o próximo, de celebrar o nascimento de Cristo, de ir à igreja pedir ao nosso Pai Celestial mais amor e paz. – HUM...TALVEZ NÃO SEJA ISSO, ACHO QUE ESTOU ME ENGANANDO DE NOVO. FICO CONFUSO SEMPRE QUANDO CHEGA ESSA ÉPOCA DO ANO. MAS,...DEIXE-ME VER...AH! NO FUNDO, NO FUNDO MESMO, Natal é tempo de não ter tempo, de se espremer entre as lojas abarrotadas de ilusórias promoções de 12x sem juros na navalha do seu cartão de crédito; Natal é tempo de dar presentes a quem, durante todo o ano, você nem mesmo disse um EU TE AMO de forma sincera; Natal é tempo de quebrar seu porquinho e contar as míseras moedas juntadas religiosamente no ano todo; Natal é tempo de engordar quilos de panetonne e perder litros de lágrimas com programas de TV que fingem ajudar alguém; Natal é tempo de gastar o 13º com 133 coisas que você sonhou ter, mas de fato vai poder escolher apenas umas poucas; Natal é tempo de ouvir as velhas músicas natalinas que nunca mudam, principalmente aquele batido cd da cantora Simone de 1995; Natal é tempo de enfeitar toda a cidade com luzes vivas e coloridas, enquanto os esquecidos percorrem as ruas mendigando um pouquinho assim de esperança. Enfim, cada um vive o Natal como quer, cada qual tem seu sonho criado e o usa conforme lhe convém. Eu mesmo me confundo, inocentemente, em saber a verdade por trás do dia 25 de dezembro de Jesus Cristo. Amém. 

sexta-feira

Rap do Criolo Doido


Inventivo e multifacetado, Nó na Orelha consagra um rapper ao mundo pop

Ofuscado até o inicio da década de 2000, Kleber Cavalcante Gomes, mais conhecido como Criolo, saiu da toca do rap e se revestiu de um teor pop com o seu segundo disco, no na orelha, lançado em março de 2011. Nó na Orelha, disponibilizado apenas em vinil e gratuitamente através da internet, não é apenas um álbum de rap, mas absorve também a musicalidade da MPB, Funk, Soul e Blues. Trata-se, pois, de um disco para destravar os mais resistentes ao movimento Hip Hop e à música Rap, construindo um espectro de ritmos e estilos que se metarmofoseiam em uma obra de sonoridade ímpar.

Nó na Orelha vem com 10 faixas, com destaque para a que abre o disco, “Bogotá”, que se toma por uma parafernália envolvente, num misto de batuques com trompete e sax, desconstruindo logo de inicio a carga de rapper que Criolo carrega. “Freguês da Meia Noite” é um singelo “brega”, numa cadência de sutileza e suavidade, pontuado com humor e descontração. O rap vem representado na essência nas faixas “Sucrilhos”, “Grajauex” e “Lion Man”, construídos harmonicamente com a introdução de diversos elementos musicais que fogem ao lugar comum do rap e se juntam a voz afinada de Criolo, formando o que poderia se chamar, na melhor das intenções, de um “pop rap”. “Linha de frente”, que encerra a obra, é um sambinha leve na musicalidade, gostoso de degustar com os ouvidos, mas com mensagem firme e ácida para a sociedade. Além do brega, rap, soul e samba, ainda há espaço para o reggae, na faixa “Samba Sambei”.  “Não existe Amor em SP”, uma batida intimista, é de uma delicadeza na letra e no arranjo, considerada como um dos “singles” do álbum, canção que foi interpretada com o veterano Caetano Veloso no VMB 2011, da rede MTV. Além de ter o baiano ao seu lado na interpretação, Criolo venceu três prêmios no VMB 2011: o de Álbum do Ano, Música do Ano (“Não Existe Amor em SP”) e Artista Revelação.

A capacidade de Criolo de navegar entre os tênues limites da diversidade musical só reforça a genialidade do rapper paulistano em desconstruir grades e regras. Nó na Orelha é, sinceramente, dedicado àqueles que buscam na musica brasileira um som provocador, criativo e ironicamente inteligente. 

Para ouvir o álbum, clique aqui: http://www.radio.uol.com.br/#/busca/album/no na orelha 

quarta-feira

Suor doce e ócio corrosivo

Dizem que escrever é libertação, é buscar asas hipotéticas nas palavras. Para mim, escrever quase sempre é prisão, quase sempre é uma obrigação com meu intelecto emocional. Se fosse possível permaneceria sem um traço qualquer de linhas, seguiria seco de devaneios sem sentido. Se fosse cínico com a vida, com certeza não precisaria desenterrar nenhuma frase de abstração. Mas ele está ali, rígido e intolerante, esperando que algo divino desça na minha inspiração. Nada disso! inspiração nunca! o que você vê aqui é puro desmembramento árduo de se construir sentido real de onde tudo é pó cinza, de onde tudo é líquido insípido. O que faço aqui é suor doce e ócio corrosivo, é trabalho escravo com direito a férias diárias. Nada mais que minha forjada profissão. (...) Ele vai estar sempre me observando, me comendo aos poucos, me empurrando do porão da vagabundagem para a sala de estar da escrita. Ele, ele mesmo, é o responsável por essa catástrofe literária. Ele, o sonho. 

segunda-feira

A Hora do Pesadelo (1984)



Não importa o gênero, mas os clássicos têm um motivo para tal. E isso não é diferente com A Hora do Pesadelo, de 1984. Revendo a obra mais de 20 anos depois de sua produção, o filme carrega a mistura dos clichês juvenis de terror com o experimentalismo do roteiro inusitado para época. Consagrou também um dos personagens mais emblemáticos e assustadores (para alguns) da historia do cinema, Freddy Krueger, que ainda hoje é alimentado por remakes fajutos. E para a surpresa minha e talvez de muitos, foi o filme em que o excêntrico ator Johnny Depp estrelou na tela grande, artista que continua hoje povoando produções sinistras no cinema. A Hora do Pesadelo é dirigida por Wes Craven, diretor consagrado do gênero e que também produziu o imbatível “Pânico” e suas três sequencias "mais do mesmo". No filme  algumas fórmulas batidas do terror/suspense: um grupo de adolescentes assustados, um segredo por trás do assassino, sustos quando você menos imagina e uma trilha sonora que provoca frisson. Sem afetar tanto, a trilha é verdadeiramente fantástica para agitar a poltrona, cumpre o papel de realçar medos e palpitações.
Quem diria: Johnny Depp estreia
 no cinema em A Hora do Pesadelo
O enredo é simples: quatro jovens que, quando caem no sono, são atacados por Freddy Krueger (Robert Englund) dentro dos pesadelos, mas na verdade quando percebem o aconteceu tudo parece ser real. Daí por diante, se desenrolam uma série de fantasias escabrosas e perseguições sanguinolentas que se interpenetram na dimensão do concreto e no submundo do pesadelo. Existe por trás da história uma motivação que impulsiona Freddy a esse martírio, porém nesse ponto a trama se mostra superficial na abordagem analítica do vilão, assunto mais tarde tratado em outras continuações do filme. Inegavelmente, A Hora do Pesadelo carimbou sua marca em 1984 e permanece nos anos 2000 como um ícone do trash/terror/suspense que tem lugar garantido para os fãs do gênero. É raro hoje quem não conheça esse camarada com dedos de tesoura, blusa listrada e cara queimada que vive à espera de uma cochiladinha para...tzzzzzz... cortar você em pedaços. E Cuidado quando ouvir a música: “Um, dois, Freddy vem te pegar / Três, quatro, é melhor a porta do quarto trancar! / Cinco, seis, agarre o seu crucifixo! / Sete, oito, é melhor ficar acordado até tarde! / Nove, dez, não durma nunca mais".
Por trás da máscara: Robert Englund interpretou
 o vilão dos pesadelos

domingo

Ausência de chaves, bloqueio de verdades

Me esquecendo um pouco, deixando de lado o problema Eu. É difícil por vezes ignorar o seu próprio, mas é preciso para o destravar. Parece uma energia que bloqueia qualquer reação de vida, e isso é algo que vem de dentro. A culpa é toda do interior, pois é nele que o obscuro ganha forma e atinge o fora. Nessas horas, o esquecimento é chave para o tormento, e mesmo que dure segundos, tenho uma breve sensação de liberdade quando fujo de mim. Uma fuga desenfreada, perdida, atrás de do mínimo de respiração que eu possa encontrar. O mesmo Eu que libera é o mesmo Eu que encaixa. Mas é tudo ilusão rápida, que depois traz a verdade consigo. A verdade toda inibida em mim. A possibilidade bloqueada em mim. A ausência de chaves dentro de mim. É uma alucinação mesmo ser auto-inimigo, pois é uma traição própria, legítima. Vou dispensando enquanto posso esses bloqueadores, me esquecendo vez por outra para ao menos me sentir por alguns instantes, momentos sagrados de iluminação.

sexta-feira

O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (1962)


Sempre tinha ouvido sobre O Que terá acontecido a Baby Jane?, mas não sabia do poder dele. Me surpreendi e soube a sua importância para a sétima arte. Suspense, drama, mistério, uma mistura de gêneros que o tornam envolvente. O ano da produção é 1962, e aí que percebo que hoje é raro encontrar interpretações tão sublimes como as de Bette Davis e Joan Crawford, as duas protagonistas do filme. Bette Davis dispensa apresentações, já tinha conhecido sua força quando vi A Malvada (1950), e já estava com expectativas boas quanto à sua atuação em O Que terá acontecido a Baby Jane?. Dito e feito. Para ser sincero, Bette superou na trama e me tornei fã de carteirinha a partir daí. Joan Crawford não deixou por menos, e atuou magnífica junto com Bette. Na trama, as atrizes fazem o papel de duas irmãs que vivem juntas, mas que se odeiam. Uma delas é paralítica, Blanche (Joan Crawford), que vive sob os cuidados de Jane (Bette Davis), a irmã desequilibrada emocionalmente, alcoólatra e violenta. O filme foca na tensão surgida do relacionamento das duas, ou seja, o suspense vem regido por um conflito familiar que ultrapassa o bom senso e cria situações escabrosas e assustadoras no dia a dia das irmãs. É só imaginar como uma mulher alcoólatra e louca é obrigada a cuidar de sua irmã presa numa cadeira de rodas, e isso permeado não por amor, mas por uma relação de inveja e de um ódio feroz que é transmitido a quem o assiste. E foi isso mesmo. Durante a trama, senti raiva e medo da personagem Jane, uma figura que desperta emoções odiosas no filme, e torna a vida de Blanche um inferno de fato. O final surpreende tanto quanto o desenrolar da história, e prova mais uma vez que “não se fazem mais filmes como antigamente”. Um filme que precisa ser visto por todos, um clássico triunfante tanto na interpretação, quando no roteiro. Uma trama que dispensa o excessivo sangue dos suspenses atuais, e mostra que de um relacionamento entre duas irmãs pode sair uma montanha russa de tensões que paralisam o espectador.

quinta-feira

Dissecando intimidades

Sempre que necessário é bom se dissecar um pouco, ver cada nervo de verdade e cada músculo de interrogação que descansa sobre a nossa anatomia psicoalucinada. É quase toda de alucinação que formamos nosso auto- retrato. Por isso, esse mergulho dentro dessas viagens internas é fundamental para avaliar a tolice da qual adoramos praticar. Temos medo do cubo do reconhecimento pessoal, pois ele dói tanto que nos grudamos ao comodismo do sorriso fácil e descartável. Estou caindo de fato na realidade de que muita coisa em mim merece ser enlatada urgentemente, há lixo alegre e falso que deseja um bom depósito de vergonha e reciclagem. Os tempos de reciclagem podem demorar a surgir, mas quando se soltam vem com toda a velocidade de uma opinião sincera que quase sempre nos falta. Vou aproveitar esses segundos raros de onipotência emocional para liberar essas minhas sinceridades nuas!