Não adianta. Já passa das duas da manhã e
nenhum vestígio de sono, nem mesmo um bocejo de consolo. Estou como que ligado
a uma energia soberba de tuas memórias, numa insônia digna de um escritor de
romances decadentes. Sinceramente, desejaria agora um sono pesado para escapar
da loucura de me renegar como ilegítimo. Uma cama bem profunda para afundar
tudo dentro dela, sem transtornos emocionais. Agüentaria tranqüilo uma dose de
vinte quatro horas apagado. Imagine se ausentar da trégua de viver por um
dia...seria um agrado para quem tem míseras seis horas de sono mal-concluído.
Mas
toda insônia tem um fundo de verdade, e a minha tem sido a sua. Onde estará você
agora? Sua carne e osso com certeza estão lhe pertencendo agora, mas eu guardo
teus desejos comigo, dos mais simples aos mais terríveis. Levo teus sonhos para
criar os meus, e vou elaborando meu plano de te pertencer de novo. Alguma vantagem tinha de sair dessa madrugada de
chuvas e ausências. E saiu: isso de ficar te resgatando na saudade é uma vantagem
e tanto, mesmo que os efeitos colaterais incluam olhos úmidos. Esperava qualquer
resposta que me aquietasse, sentir um punhado de paz no coração. Telefone mudo, peito em estalo, unhas ruídas,
palavras inchadas, esperança em estado de alerta, amor protegido: essas foram
as conclusões das horas que passei querendo te encontrar no meio de tantos
escombros. Mas não se preocupe. Eu não desistirei nunca da nossa salvação.
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