A personagem Susana traz um cinismo malicioso
que ora se transparece em uma vilã sem coração, outra uma desastrada e
desajustada que não sabe o que quer, carregando uma inocente amargura que mais
parece uma criança mimada. Esse caráter transitório de Susana dá a personagem
uma comicidade que não a torna odiada, salvo em algumas exceções, pois ela
sempre está em busca de humilhar o irmão, frágil e compreensivo. Marcos, por
sua vez, representa o lado gentil do filme, trazendo o filho dedicado que ficou
ao lado da mãe até a hora da morte.
A direção é do argentino Daniel Burman, o
mesmo que dirigiu a trilogia O Abraço
Partido, As
Leis de Família e Ninho
Vazio, todos abordando o universo
familiar. O roteiro não traz aventuras mirabolantes nem peripécias fantásticas
entre os dois irmãos, pois a graça do longa reside nas desavenças e situações
cotidianas entre Susana e Marcos e nos desejos e sonhos que cada um guarda e
ambiciosa alcançar, cada qual a seu modo.
As interpretações sinceras
de Graciela Borges e Antonio Gasalla não deixam que a obra caia na monotonia de
um drama chato e caricato. Dois Irmãos prova que com simplicidade no roteiro e
um par de atores competentes é possível sair da comédia bobalhona dos enlatados
americanos e extrair risos honestos de uma historia que comove e diverte em
dosagens justas. A convivência entre os personagens reflete realidades que
podemos encontrar em qualquer ambiente familiar, e essa aproximação delicada
com nosso dia a dia é mais uma justificativa para que o filme não passe como
uma simples distração de final de tarde.
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