Dispenso definições. Escolho pela metamorfose de escrever livre, longe de qualquer vulto de encaixe. Se me perguntarem sobre o que é isso, hesito em responder. Apenas sinto...

quinta-feira

EU RECOMENDO: Dois Irmãos (2010)


 Simplesmente cativante. Essas duas palavras resumem a sensação que tive depois de ver Dois Irmãos, filme argentino lançado em 2010. Com personagens marcantes, o filme se dedica ao tênue relacionamento de Susana (Graciela Borges), mulher egocêntrica, manipuladora e possessiva, e Marcos (Antonio Gasalla), um senhor sensível e atencioso. Ambos são irmãos, mas não se entendem devido ao choque de visões de mundo. Simples assim, o roteiro se constrói focando os atritos entre eles, mas de uma maneira tão deliciosa de ver que o drama por vezes troca de papel com a comédia, e o telespectador mergulha numa confusão de gêneros que torna Dois Irmãos precioso.

A personagem Susana traz um cinismo malicioso que ora se transparece em uma vilã sem coração, outra uma desastrada e desajustada que não sabe o que quer, carregando uma inocente amargura que mais parece uma criança mimada. Esse caráter transitório de Susana dá a personagem uma comicidade que não a torna odiada, salvo em algumas exceções, pois ela sempre está em busca de humilhar o irmão, frágil e compreensivo. Marcos, por sua vez, representa o lado gentil do filme, trazendo o filho dedicado que ficou ao lado da mãe até a hora da morte.

A direção é do argentino Daniel Burman, o mesmo que dirigiu a trilogia O Abraço Partido, As Leis de Família e Ninho Vazio, todos abordando o universo familiar. O roteiro não traz aventuras mirabolantes nem peripécias fantásticas entre os dois irmãos, pois a graça do longa reside nas desavenças e situações cotidianas entre Susana e Marcos e nos desejos e sonhos que cada um guarda e ambiciosa alcançar, cada qual a seu modo.

As interpretações sinceras de Graciela Borges e Antonio Gasalla não deixam que a obra caia na monotonia de um drama chato e caricato. Dois Irmãos prova que com simplicidade no roteiro e um par de atores competentes é possível sair da comédia bobalhona dos enlatados americanos e extrair risos honestos de uma historia que comove e diverte em dosagens justas. A convivência entre os personagens reflete realidades que podemos encontrar em qualquer ambiente familiar, e essa aproximação delicada com nosso dia a dia é mais uma justificativa para que o filme não passe como uma simples distração de final de tarde.               

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