Elo, o quarto álbum de Maria Rita, abusa da repetição e se mostra pequeno e dispensável para expressar a força interpretativa da cantora
Com a diversificação da música popular brasileira cada
vez mais acentuada, com seu espectro de sonoridades e estilos muitas vezes
inclassificável, indo das influências do jazz e blues ao genuíno samba de raiz,
se firmar como um ícone da MPB não é tarefa fácil. Ganhadora de seis prêmios
Grammy Latino entre os anos de 2004 e 2008 e com mais de um milhão de CDs
vendidos em plena crise da indústria fonográfica, Maria Rita consagrou-se como
um desses ícones. Entretanto, em seu quarto álbum, intitulado Elo, a
cantora não toca na reinvenção e traz mais do mesmo, num cd embalado pela normalidade
e modulado pela repetição. Elo impressiona pouco, e se caracteriza como um
adicional e não como um diferencial na carreira da artista, que vem de um
intervalo de quatro anos sem gravar nada, desde o seu terceiro álbum, Samba
Meu, de 2007.
O novo álbum traz canções inéditas tocadas em sua
última turnê, que ficou conhecida como um ‘”show sem nome”, e também a
releitura de clássicos de Chico Buarque, Rita Lee, Caetano Veloso e Djavan,
além de uma composição de Marcelo Camelo, presença constante desde o seu
primeiro álbum. Elo resgata traços da sonoridade de seus dois primeiros
discos, Maria Rita (2003) e Segundo (2005), na influência de
elementos do blues e na formatação com piano, baixo e bateria, e se desconecta
ligeiramente do Samba Meu (2007), composto só de sambas.
Nas regravações dos clássicos da MPB, Maria Rita peca
pelo comum e não empolga tanto. Na interpretação de “A História de Lily
Braun”, de Chico Buarque e Edu Lobo, canção exaustivamente gravada por
diversos artistas brasileiros, a cantora se torna pequena na voz e na emoção,
numa releitura sem energia e com arranjos batidos e inertes a qualquer vislumbre.
Maria Rita também decepciona em “Menino do rio”, de Caetano Veloso, “Nem
um dia”, de Djavan, e “Só de Você”, de Rita Lee, trazendo para as
canções uma roupagem gasta e sem criatividade, em tons repetitivos e apáticos.
De fato, não se questiona a regravação de clássicos pela cantora, mas como isso
foi construído em Elo, dando a impressão de pouco esforço para inovar e
impressionar quem a ouve. Já em “A Outra”, composição de Marcelo Camelo,
Maria Rita consegue uma interpretação delicadamente forte, contraindo a canção
a um grau de intimismo que se desprende de seu arranjo original cantado pelo
grupo Los Hermanos.
Mesmo tendo abusado da neutralidade com os clássicos,
Maria Rita se expressa com certo vigor nas canções inéditas, como na faixa que
abre o disco, “Conceição dos Coqueiros”, composição do pernambucano Lula
Queiroga, e em “Santana”, também de outro pernambucano, Junio Barreto,
num dos raros momentos do disco em que a cantora explode em sensibilidade e
potência vocal.
É claro que em Elo não podia faltar os sambas,
constantes nos seus outros álbuns e marca característica da cantora, reunidos
em três faixas do disco: “Coração a batucar”, “Pra matar meu coração” e
“Coração em desalinho”, que por coincidência ou não, todas as três tem o
mesmo substantivo no título. Os sambas de Elo se espelham na
musicalidade apresentada anteriormente pelo álbum Samba Meu, e não fogem
muito da reta desenhada antes pela cantora. “Coração em desalinho” foi,
inclusive, música de abertura da novela Insensato Coração, da rede Globo.
O que se vê é que não sobra espaço para a provocação criativa que tire os
sambas do disco do lugar comum.
Elo, contrariando o próprio nome, nasce disperso e
desajeitado para a carreira de
Maria Rita. Fruto de exigência da gravadora e produzido em 10 dias entre um show e outro, o álbum registra
músicas que dialogaram com a cantora em seus dez
anos de profissão, pedidos de alguns amigos e canções tocadas apenas nos seus
recentes shows. O disco é, segundo a artista, um presente para o seu público.
Entretanto Elo é, simplesmente, apenas mais um
tímido disco para a multifacetada MPB, e ofusca a força que a cantora ergueu
nos seus antigos trabalhos. Se não viesse de uma artista de sensibilidade
interpretativa e de peso musical como Maria Rita, o álbum passaria invisível
para os mais desatentos e dispensável para quem busca ousadia no universo
fértil da música brasileira.
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