(...) Ele é somente espelhos. Nada
mais além dele próprio tinha reflexo naquele mundo. Quando se encarava sabia
que ali estava um lindo rosto manchado de pura vaidade. Talvez não fosse sua
culpa tamanha idolatria. Um pouco daquilo que ele guardava vinha dos outros,
que cultivavam ainda mais a semente da beleza imposta. Isso mesmo, ele era um
impostor. Não era egoísta, nem tampouco egocêntrico. Era verdadeiramente um
admirador em potencial de seu auto-modelo. Para alguns soa cruel não pensar em
egoísmo nessas circunstancias de beleza, mas ele sabia o quanto aquilo doía
dentro dele. “Beleza dói, e muito. Quisera eu eliminar boa parte dessa dor e
viver livre. Liberdade quase sempre se esbarra na vaidade”, afirmava resignado.
Frederico Lazarus pagava o preço de ser assim, e ele não era hipócrita a ponto
de admitir que não queria que fosse desse modo. Culpado ou inocente, ele
simplesmente se adorava, e isso era seu prazer e seu martírio. (...)
Nessas linhas simplórias se encontra
um personagem que precisa tomar corpo, ainda paira sobre ele um mistério
aterrorizante para mim. Frederico Lazarus talvez seja mais uma dessas criações
ociosas que perduram como um calo crônico. Mas solucionarei o mais breve possível
esse vácuo, caso contrário a vida desse embaçado personagem cairá na lixeira de
meu computador como outras ideias abortadas da minha cabeça, ou ficará
latejando dentro de um arquivo Word como assunto congelado e minúsculo.
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