Dispenso definições. Escolho pela metamorfose de escrever livre, longe de qualquer vulto de encaixe. Se me perguntarem sobre o que é isso, hesito em responder. Apenas sinto...
segunda-feira
Falsa-Mente
Falsamente eu não minto. Digo sempre a verdade hipócrita aos sábios pseudológicos. Vou criando dentro do vazio um recheio de fantasia. Vou fazendo a festa aqui mesmo no porão. Cá estão dentro de mim o sim, o não e o senão. Se não fossem istos eu não teria sido aquilos. A comédia que me tira lágrimas é aquela feita com o coração. Brinco sempre de adulto porque a criança guardada em mim está ocupada com os sonhos. Sonho mesmo que não chegue no fim do arco-íris, pois sei que no meio dele há muita esperança para alimentar. Vou caindo no mesmo buraco, mas estranhamente o buraco vai caindo sobre mim. Aí nós dois ficamos equivalentes, eu e o buraco. E então deixo todas essas imaginações psique de lado e vou tratar é de dormir. Dormir também é viajar.
domingo
Uma cabeça em ponto de ebulição
Lançado em 1986, Cabeça dinossauro, o terceiro álbum dos Titãs, é provocador, explosivo e polêmico, e se firma como referência para a rebeldia com causa do rock brasileiro
O ano de 1986 carimbou mudanças no cenário brasileiro. O país saia do nebuloso período ditatorial, convivia com a morte brusca do primeiro presidente pós-militar Tancredo Neves e o ideal do Diretas Já de 1984 ainda pairava. A economia acelerou com o Plano Cruzado, o ideal libertário explodia nas mentes juvenis e a música também teve sinais de febre alta. Em 1985 acontecia a primeira edição do Rock in Rio, evento de repercussão internacional que espelhou um amadurecimento do rock brasileiro, e os jovens assistiam a um painel de “música de barulho” crescer com qualidade no país.
Apesar de não ter participado da edição inicial do Rock in Rio, os Titãs traziam em 1986 o seu símbolo anárquico: o álbum Cabeça dinossauro, o terceiro LP da banda. Considerado por muitos como um marco divisor na carreira do grupo, o álbum incorpora a energia rebelde que os roqueiros desempenhavam nos shows ao vivo e que foi camuflada nos seus dois primeiros álbuns, Titãs (1984) e Televisão (1985). Nessa época os Titãs iniciaram sua consagração no rock brasileiro com o disco, tendo no grupo, em 1986, oito integrantes: Arnaldo Antunes, Branco Melo, Charles Gavin, Marcelo Fromer, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto, e Tony Bellotto.
Cabeça dinossauro veio repleto de letras agressivas que criticavam as instituições sociais, como nas faixas “Estado Violência”, “Família”, “Polícia” e “Igreja”, escritas com uma polêmica acidez, porém com inteligência. A ousadia do álbum não se limita ao discurso crítico, mas a estética sonora também se enfurece, composta agora de uma unidade de som mais “pesada” que os discos anteriores, fazendo referência ao punk rock na composição de suas melodias.
O álbum se caracteriza também como a primeira parceria da banda com o produtor Liminha, um dos mais conceituados na área musical, mesmo com uma certa resistência do grupo em aceitar o produtor no projeto. A parceria deu certo, e Cabeça dinossauro ganhou o Disco de Ouro em Dezembro do mesmo ano, atingindo na época a marca das 300 mil cópias vendidas. Em 1997, a revista Bizz, referência no campo musical, considerou o disco como sendo o melhor do pop/rock nacional. Indiscutivelmente, o Cabeça dinossauro é uma explosão consagrada do genuíno espírito de anarquia do rock no Brasil, e que contribui para fazer dos Titãs uma referência até hoje para a música no país.
A obra vem com 13 faixas, com destaque para “Cabeça dinossauro”, a que abre e dá nome ao álbum, e que traz um elemento musical interessante: uma batida influenciada por tambores indígenas. A música se constrói em meio a curta letra composta somente por três versos “Cabeça dinossauro, pança de mamute, espírito de porco”. A mistura com o ingrediente exótico nessa faixa inova e instiga a ouvir o álbum com mais desejo. A faixa “Igreja”, composta por Nando Reis, ateu assumido, se caracteriza num teor impulsivamente agressivo contra o sistema religioso. “Igreja” causou até um mal estar entre os integrantes da banda, pois Arnaldo Antunes, que tinha religião, era contra a execução da música nos shows, nos quais ele se retirava no momento em que era executada.
“Bichos escrotos” também provoca polêmica trazendo em sua letra um teor escatológico, e o uso da expressão “vão se foder”, motivo que fez a faixa ser censurada nas rádios na época. Mesmo com a censura, muitas das emissoras tocavam a faixa ocultando o trecho proibido ou pagando multa ao executá-la na integra. “Homem primata” se destaca pelo contumaz crítica ao sistema econômico, com o imbatível refrão “homem primata, capitalismo selvagem...” que até hoje é lembrado.
Além da religião, os Titãs não deixam escapar outras esferas da sociedade, e mostra nas faixas “Estado Violência”, “Polícia” e “A face do destruidor” que não estão só fazendo música, mas mexendo nas feridas inflamadas que o país vinha apresentando. Essa é uma das razões pela qual o disco continua contemporâneo e vivo na música brasileira, fazendo refletir questões sociais que persistem no decorrer destes 25 anos do surgimento do álbum.
A sonoridade de “Cabeça dinossauro” entra em sintonia com a acidez adequada das letras, trazendo uma velocidade nas músicas com bateria e guitarra através de uma aproximação com alguns traços do punk rock. Esse dinamismo proporciona ao álbum, junto com as composições, uma espécie de energia que desperta o ouvinte para a força de um rock envolvente e provocador. Já na faixa “Família” se percebe um diálogo com o reggae, dando leveza e contrastando com a maioria no álbum. Em “A face do destruidor”, de apenas 37 segundos, o vocalista Sérgio Brito resolve cantar 18 versos nesse curto tempo, confusos devido à rapidez e às bases propositalmente tocadas ao contrário. A intenção dele foi dar uma provocação a mais nesse já espaço inventivo do disco. A faixa que encerra o álbum, “O que”, é um poema criado por Arnaldo Antunes transformado em música, que carrega uma melodia singular, com uma batida diferenciada das demais no uso de instrumentos eletrônicos (bateria e samplers), agradável de ouvir e com sentido visionário para as posteriores criações dos Titãs.
Cabeça dinossauro é, sem dúvida, uma obra de maestria e solidez para o espectro do rock nacional, um ponto de referência para a atitude de protesto que alimentava a “música de barulho”, dando autenticidade aos rebeldes com causa do Brasil de 1986 e persiste no Brasil dos anos 2000. A censura de “Bichos escrotos”, a divergência religiosa de “Igreja”, a desconstrução melódica de “A face do destruidor”, entre outros, expõe a realidade cortante de um álbum de rock que provoca fúria e consciência. A força encontrada em Cabeça dinossauro justifica o seu lugar como um dos melhores álbuns de rock já produzidos no país, e atesta uma das gloriosas fases, senão a mais pulsante dos Titãs, um grupo que há 25 anos constrói história e atitude no cenário da música brasileira.
As vídeolocadoras ainda respiram
O acesso crescente aos downloads virtuais provocou nas vídeolocadoras uma reinvenção estratégica para a sobrevivência na era digital
“Em breve disponível nas locadoras”. Essa frase, que por muito tempo encheu de expectativas as pessoas que abarrotavam as vídeolocadoras, hoje se reveste de um passado distante e esquecido. Com o advento da internet de alta velocidade e o acesso exponencial a downloads de filmes, as locadoras perdem cada vez mais espaço na sociedade e ganham mais espaço apenas na memória dos que faziam desses lugares um reduto de lazer imprescindível. Para resgatar esse tempo nostálgico, as vídeolocadoras estão buscando novas estratégias e até mesmo incorporando inovações tecnológicas para atrair a sua clientela.
A rede de locadoras Game Vídeo, que possui 6 lojas espalhadas pelas cidades de Recife, Jaboatão e Olinda, é um exemplo claro dessa visão estratégica no mercado de hoje. Um dos proprietários da Game Vídeo, Eduardo Montenegro Lemos, admite que a freqüência de clientes diminuiu bastante nos últimos cinco anos, mas existe uma clientela que freqüenta semanalmente o estabelecimento. “Acredito que sempre teremos nossos clientes, porém é necessário que estejamos atualizados e antenados com as novidades e tudo mais que possa fortalecer nosso negócio. Temos que nos profissionalizar e cada vez mais criar produtos e serviços diferenciados”, explica Eduardo. A Game Vídeo investe na diversificação de serviços oferecidos, como a fidelização do cliente através de Cartões de desconto, sorteio de prêmios atrativos como aparelhos de blu-ray, site na internet com o catálogo de filmes e promoções com locações grátis em dias de semana.
Outro ponto estratégico é a relação dos atendentes com o cliente. “O contato com os atendentes é importantíssimo para orientar sobre as escolhas dos filmes. É preciso que esses entendam de filmes e diretores para dar as melhores sugestões”, afirma Alessandro Ísidio, que já trabalhou em algumas vídeolocadoras no Recife. Fora o conhecimento que os funcionários precisam ter sobre cinema, a locadora também é um ambiente que propicia o contato social. O estudante de direito da UFPE, Thiago Leite, ressalta o peso dessa socialização: “O que ainda me atrai ao ir as vídeolocadoras é a interação com outras pessoas, seja com os vendedores ou com os amigos que costumamos encontrar nesses estabelecimentos”, retruca Thiago.
As locadoras também estão se remodelando em sua função social, se transformando em centros de convivência e conveniência para se aproximar e conquistar os clientes. E para isso criam um ambiente que não só oferece filmes, mas também que imite o espaço físico do cinema, com a venda de guloisemas, pipocas, sorvetes e outros apetrechos atrativos. Além da venda desses produtos, investe-se também na realização de eventos. A Cavídeo, vídeolocadora conceituada na zona sul do Rio de Janeiro, é uma das que inovaram na oferta de atividades ligadas ao cinema. “Tentamos atuar não só na locação, mas em áreas complementares a ela. Temos uma produtora/distribuidora (Cavifilmes), realizamos cineclubes e eventos temáticos. Isso sempre desperta atenção da mídia, e, consequentemente, gera publicidade. Uma vez montamos um telão no estacionamento da Cobal e exibimos filmes a noite inteira. Futuramente vamos fazer uma festa pop-art em um salão de cabeleireiro aqui perto”, expõe Cavi Borges, dono da locadora.
A Classic Vídeo, presente há 25 anos no Recife, sofreu uma queda na quantidade de locações de oito mil para cinco mil locações mensais. Mesmo com esse decréscimo, a locadora possui seu público cativo e a sua estratégia é o imenso acervo de filmes clássicos e de arte. O proprietário da vídeolocadora, Cláudio Brayner, é dono de uma coleção com cerca de 20 mil clássicos, os quais não são geralmente encontrados em locadoras ditas “comuns”. “O movimento caiu muito com o incremento da pirataria e também com os downloads, porém temos uma clientela cativa que nos prestigia há bastante tempo e sempre está à procura de filmes diferenciados e que não consegue no pirateiro nem nos downloads”, explica Cláudio. O público-alvo da Classic Vídeo são geralmente cinéfilos e pessoas mais maduras. Segundo o proprietário, esse tipo de público preza pela qualidade e variedade e os mais velhos ainda não estão familiarizados com os downloads virtuais. “O download nos dias de hoje ainda é bastante lento, só os mais jovens têm paciência suficiente para baixar um filme, que às vezes nem legenda traz, o que não é o nosso caso, que ofertamos qualidade de imagem e som aliado ao diferencial de clássicos e de arte que atrai os cinéfilos e os de meia-idade”, explana o colecionador.
O furor tecnológico, apesar de em parte intimidar a presença das vídeolocadoras, trouxe uma inovação que pode reaquecer esse mercado. Esse fator é a tecnologia Blu-ray, que veio como um substituto da tecnologia DVD, e que, apesar de ainda incipiente no mercado e possuir um custo mais elevado, é positivo para as locadoras. “Você não encontra Blu-ray pirata nas ruas. Essa nova tecnologia, além de melhorar consideravelmente a imagem e som, é mais resistente a riscos e arranhões, a possibilidade de mais extras e curiosidades sobre os filmes, interatividade, entre outras vantagens”, afirma Felipe Rangel, especialista em produção de vídeo. Porém, Felipe considera que o Blu-ray não trará o antigo status das vídeolocadoras, por que, segundo ele, no mercado já existem gravadores de Blu-ray e na internet já começam a ser disponibilizados downloads desse formato, que ainda é bastante tímido se comparado aos de outras tecnologias, como o DVD.
Com toda essa reinvenção das vídeolocadoras, a luta contra a “democracia virtual” de filmes ainda é árdua. E um desses percalços é o preço, um fator que precisa ser reavaliado nesse plano estratégico. Em Recife, um DVD pirata custa, em média, R$ 2, e a locação de filmes varia entre R$ 4 e R$ 8, dependendo da loja. “Um dos grandes estímulos à pirataria e aos downloads é preço. É preciso que as vídeolocadoras abaixem o valor dos aluguéis dos filmes como incentivo para atrair clientes, que estão cada vez mais hipnotizados pelo baixo custo dos piratas e do zero custo dos filmes virtuais”, desabafa Ana Cláudia, freqüentadora de vídeolocadoras e também consumidora de DVD’s piratas. Ana admite que os filmes baixados da internet ou comprados ilegalmente muitas vezes pecam pela qualidade. Muitos desses filmes vêm sem sincronização de legendas, travam no momento da exibição, possuem imagem e som distorcidos e não trazem os extras que os originais apresentam. Apesar de todos esses contras, existem vantagens que prevalecem na hora de sair de casa em busca das vídeolocadoras. “Eu sei que a qualidade às vezes não é essa coisa toda, mas é mais cômodo e econômico baixar filmes em casa. Eu penso até em solicitar entrega a domicilio, mas eles cobram uma taxa que acaba saindo mais caro ainda. Se as locadoras reduzissem todos esses custos estimularia mais os clientes. Muitas já oferecem pedidos on-line, o que já um grande estímulo, pois não preciso sair de casa”, explica a estudante de odontologia, Karen Richers.
Mesmo com todos os esforços dos proprietários das vídeolocadoras para sobreviver aos novos tempos reinados pela liberdade virtual, é preciso admitir uma realidade que já é consagrada: não há como escapar do englobamento trazido pela internet. “Apesar de todas essas estratégias, a internet é poderosa e continuará forte rumo a uma maior democratização cultural, e a saída para o mercado das vídeolocadoras é seguir o velho ditado: se não é possível lutar contra o inimigo, una-se a ele”, conclui a pesquisadora social especialista em tecnologia, Janusy Mara.
Veja mais:
- Conheça um pouco do acervo diferenciado de filmes clássicos e de arte do colecionador Cláudio Brayner, proprietário da Classic Vídeo, pelo link:
- Saiba quais as promoções que a rede Game Vídeo Locadora disponibiliza em suas lojas através do link:
sexta-feira
Engolindo sapos prolixos do contra-objetivo
Ainda não consegui achar aquele ponto crucial onde as minhas palavras se existem como livres. Toda essa minha escritura anda presa ao intrincado, ao mais enrolado dos rolos de papel. Destrinchar essa escrita pesada é tarefa difícil. Aguardo o dia em que vou poder respirar aliviado enquanto escrevo. E esperando sentado o momento dessa magia textual, vou engolindo os sapos prolixos do contra-objetivo, da contra--fluidez, da contra-clareza. Oh Senhor! Liberte-me dos adjetivismos cruéis! Dai-me os substantivos para eu devorar! Perdoa todos os meus pecados pleonásticos e redundantes! Abaixo ao edema literário!!!
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